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Brotero, Félix de Avelar, 1744-1828
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Sumário descritivo:

Repositório: Biblioteca do Departamento de Botânica, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra.
Localização: Departamento de Botânica
Cota:
Cofre
Criador: Félix Avelar Brotero
Título: Fundo Avelar Brotero
Data(s): 1791-1822
Quantidade: 3 pastas.
Resumo: Manuscritos do botânico Félix Avelar Brotero.
Informação sobre o modo de aquisição:
Pertenceu ao Instituto Botânico
Organização:
5 manuscritos (1791-1822)
Ordenação alfabética.

Acessibilidade: Acesso restrito.

Acesso ao espólio

 

Nota Biográfica

Félix da Silva Avelar foi o nome de nascimento de Avelar Brotero, que nasceu em 25 de Novembro de 1744 em Santo Antão do Tojal, Loures (Portugal). Filho de José da Silva Pereira e Avelar, médico pela Universidade de Coimbra, e a sua mãe foi Maria René da Encarnação. Em consequência da morte prematura de seu pai e da insanidade mental que, posteriormente, acometeu a sua mãe, Brotero, em 1746, com apenas dois anos de idade, é confiado aos cuidados do seu avô paterno, Bernardo da Silva.

Com a morte do seu avô paterno, Félix de Avelar, aos oito anos de idade é entregue aos cuidados do seu avô materno, José Rodrigues Carreira Frazão, almoxarife dos paços reais de Mafra. Félix de Avelar, desde cedo, revelou vocação para as letras e ciências, e, aos sete anos de idade, por iniciativa do seu avô, inicia a sua formação escolar no Colégio dos Religiosos Arrábidos de Mafra, onde estudou, com o máximo aproveitamento, Língua Portuguesa, Latim, Retórica e Filosofia Racional. Foi por esta altura que despertou em si o gosto pelo cantochão, um canto litúrgico para o qual relevou bons dotes vocais.

Em 1762, morre o seu avô materno, que era o único familiar que lhe restava e que o podia apoiar. Assim, aos 19 anos Félix de Avelar vê-se só e sem sustento. Valendo-se do seu talento de cantor sacro, em 1763, obtém o lugar de capelão cantor da Igreja Patriarcal de Lisboa, que lhe concedia os rendimentos necessários sobreviver. Entretanto, continuou os seus estudos em latim e música, conseguindo ainda tempo para obter conhecimentos em Direito Canónico. Em 1768, foi ordenado diácono.

Em 1770, Félix de Avelar inscreveu-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, os cursos eram livres, bastava ir fazer os exames no fim do ano lectivo. Após cumprir com sucesso os exames em três anos seguidos, em 1772, viu-se obrigado a interromper a formatura. A reforma pombalina trouxe grandes mudanças à Universidade, uma delas foi a proibição de realizar exames sem frequentar os cursos. Os cursos livres terminaram e os estudantes passaram a ser obrigados a permanecer em Coimbra. Félix de Avelar não podia abdicar do seu lugar de capelão-cantor em Lisboa, o que o impediu de ir para Coimbra.

Decidido a seguir a carreira eclesiástica, conseguiu o subsídio de um moio de trigo no Almoxarifado de Reguengo de Alviela, com o intento de se ordenar. Contudo, nunca chegou a passar de diácono, tendo, porém, no decurso da sua vida, usado sempre trajes eclesiásticos.

O desempenho das funções de capelão cantor da Patriarcal de Lisboa deixava-lhe muito tempo livre para aprofundar os seus conhecimentos em Humanidades. Prosseguiu, assim, os seus estudos de latim e iniciou os de grego, língua que acabou por dominar. Chegou a dar aulas de grego e, inclusive, foi convidado para professor dessa cadeira na cidade da Baía, um convite que não pode aceitar.

Quando o Iluminismo chegou a Portugal e começou a ganhar adeptos, Félix de Avelar foi um deles. Quando reapareceram as Gazetas de Lisboa, em 1778, Félix de Avelar foi seu redactor. O amor que tinha pela Ciência, as ideias filosóficas que defendia e as ligações que tinha com Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio), levaram a que caísse na alçada do Santo Ofício. Em 5 de Julho de 1778, para escapar aos agentes de Pina Manique, deixa tudo para trás e emigra para França, na companhia do seu amigo Filinto Elísio. Em Junho do mesmo ano, chega a Havre. Sem recursos para subsistir, ruma para Paris, onde foi acolhido pelos portugueses ali residentes, entre os quais se encontrava o Embaixador de Portugal, Vicente de Sousa Coutinho, bem como outras figuras de vulto da política portuguesa, como o Fernandes de Lima, Francisco de Menezes e o médico Ribeiro Sanches.

Esta etapa da sua vida passada em Paris, foi de grande enriquecimento pessoal e científico para Brotero. É aqui que, seguindo a moda dos estudiosos de usarem nomes filantrópicos, acrescenta Brotero ao seu nome de nascimento, palavra que deriva do grego brohtos e eros, que significam amante dos mortais, passando-se a denominar Félix de Avelar Brotero.

Durante os 12 anos que permaneceu em Paris, frequentou assiduamente aulas de História Natural, tendo tido, como professores, figuras proeminentes do Museu de História Natural de Paris, como Buffon, Lamarck, Jussieu, Valmont de Bomare, Vicq d’Azyr, Aubenton, entre outros. Brisson deu-lhe as lições de Botânica na Académie de Pharmacie, uma matéria onde se iria revelar um notável professor e cientista.

Terminados os estudos de História Natural, doutorou-se em Medicina pela Universidade de Reims, em virtude de as cartas de curso serem, ali, bem mais baratas do que em Paris. Dada á sua extrema sensibilidade deixou de exercer medicina e dedicou-se exclusivamente ao estudo da Botânica. Enquanto estudava, Brotero, obtinha rendimentos através da venda de trabalhos originais e traduções aos livreiros parisienses.

Em 1788, publica, em Paris, o seu “Compendio de Botanica, ou Noçoens Elementares desta Sciencia, segundo os melhores Escritores Modernos, espostas na Lingua Portugueza”. Um livro notável destinado aos cursos universitários. As matérias estão bem ordenadas e expostas com clareza e rigor. Esta obra inclui o «Diccionário de termos Botânicos», que tem servido de referenciado aos muito botânicos portugueses que o sucederam.

Com o emergir da revolução francesa, Brotero, com desgostou com a evolução dos acontecimentos, em 1790, regressou a Lisboa, mais uma vez na companhia de Filinto Elísio.

Em 13 de Março de 1791, Brotero foi graduado gratuitamente pela Faculdade de Filosofia de Coimbra, sem defender teses nem fazer exame privado. Foi-lhe entregue a regência da cadeira de Botânica e Agricultura (1791-1811), bem como a direcção de obras do Jardim Botânico, que se encontravam ainda pouco adiantadas. As grandes facilidades concebidas a Brotero na sua nomeação para Lente colidiram com os interesses e promoções dos professores em funções, que acolherem o botânico com grande hostilidade. Uma situação que se perpetuou por muito tempo e que, em muitos momentos, isolou Brotero, que se refugiou no seu trabalho com o professor e cientista para esquecer as mágoas deste enredo.

Sob a direcção de Brotero o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra alcançou um desenvolvimento extraordinário. Reestruturou as alas já construídas, edificou novas alas, construiu infra-estruturas e redireccionou as funções do Jardim. Instalou as Escolas Sistemáticas, dispostas segundo o Sistema Sexual de Lineu. A dinâmica do Jardim estava centrada no estudo das plantas medicinais, para os estudantes de medicina, Brotero abriu o Jardim a outras áreas científicas, tornando-o num balão de ensaio para os vários ramos da Agricultura e estudos de Botânica.

Povoou os canteiros do Jardim botânico com plantas provenientes do país e do estrangeiro, destinadas ao ensino dos estudantes de Filosofia e Medicina. Sob a sua direcção foi construída a porta de D. Maria I.

Não havia nenhum herbário de plantas de Portugal. Brotero começou a fazer herborizações e colecções de plantas em herbário. Um contributo que revelou essencial para o estudo da flora portuguesa.

É autor de várias obras científicas de botânica de grande qualidade, entre as quais se encontram a «Phytographia Lusitaniae Selectior», dividida em dois tomos, publicados em 1816 e 1827, respectivamente, e a «História Natural dos Pinheiros, Larices, e Abetos», publicada em 1827. Grande relevo se deve dar à «Flora Lusitanica», publicada em 1804, em dois volumes, a primeira obra a retratar a diversidade florística portuguesa, servindo de base para todas as floras que, posteriormente, surgiram em Portugal. Num trabalho de 10 anos, apresentou 1885 espécies, primorosamente descritas em latim, algumas delas espécies novas (100), ordenadas pelo Sistema Sexual de Lineu.

Nas suas aulas de Botânica usava compêndio que produziu em Paris, e para as matérias de agricultura elaborou o compêndio “Princípios de Agricultura Philosophica”, que trata de fisiologia vegetal, obra que nunca chegou a ser impressa na totalidade, mas de que existe um manuscrito completo na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa.

Em 1807, o avanço das invasões francesas alcançou Coimbra, obrigando Brotero a mais uma mudança, desta feita, para se refugiar em Lisboa. A sua casa foi incendiada e muitos dos seus livros destruídos. Só em 1810 é que voltou a Coimbra, com vista a iniciar diligências para ser jubilado. É jubilado por Carta Régia de 27 de Abril de em 1811 e Decreto de 16 de Agosto de 1811. Partindo, novamente, para Lisboa, para ocupar o lugar que pretendia de Director do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, onde já prestara serviço pela ocasião da revolução francesa. Põe mãos à obra e dedica-se a reorganizar o Museu e o Jardim, mas como a passagem do Comissário francês para as Ciências e Artes, Geoffroy de Saint-Hilaire, levou tudo quanto poderia interessar ao Museu de Paris, tornou a reorganização do Museu impossível, mas o Jardim Botânico foi reabilitado e o respectivo catálogo elaborado.

Em 1821, foi eleito deputado às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes, pela província da Estremadura. Participou na discussão da lei dos cereais, onde exortou os agricultores a cultivarem centeio e trigo, para que fosse possível produzir pão para toda a população e a um preço acessível à bolsa de todos. Depois de ter assistido aos trabalhos legislativos durante 4 meses, pediu dispensa, que lhe foi prontamente concedida. Dada a sua idade avançada, as forças já lhe iam faltando.

Detinha o título de Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Avis, uma ordem religiosa militar de cavaleiros portugueses centenária.

Como homem devoto à Ciência, foi muito activo. O seu nome consta como membro da Linnean Society de Londres e da Royal Horticultural Societ. Também foi sócio de várias academias, entre as quais se encontram: a Academia Real das Ciências de Lisboa, a Academia de História Natural e Filomática de Paris, a Academia Fisiográfica de Lunden da Suécia, a Academia de História Natural de Rostock e a Academia Cesarea de Bona.

Morreu em 4 de Agosto de 1828, em Alcolena de Belém (Lisboa). Tendo sido sepultado na igreja de S. José de Riba-Mar.

O prestígio de Brotero entre os Botânicos da sua época era grande. Em sua homenageado foram designadas várias plantas com o seu nome, como é o casa da Brotera ovata e da Brotera trinervata.

Em 1873, Júlio Henriques foi nomeado director do Jardim Botânico. Reconhece o trabalho de Brotero, cria, em 1880, em sua homenagem, a Sociedade Broteriana e retoma os trabalhos de herborização de Brotero. A estátua de Avelar Brotero que prostra no Jardim Botânico de Coimbra e que procura imortalizar este grande botânico, também foi fruto do empenho pessoal do Dr. Júlio Henriques.

Jorge Guimarães

 
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